
Com a chegada do tempo estival, como não relembrar os tempos em que todos nós, de uma forma mais ou menos intensa, vivemos uma paixão de verão…onde passávamos o dia a cantarolar e o futuro parecia ser incapaz de impor limites à imaginação…
Também o mundo do futebol era capaz de desapertar sentimentos semelhantes, onde, na ingenuidade da idade e da época, sonhávamos acordados com a chegada dos craques para a próxima temporada. Terminada com sucesso a época 93/94, culminada com a subida à 1ª divisão apenas um ano depois de uma descida traumática, o defeso desse ano antevia mais uma tarefa hercúlea na procura de elementos que permitissem uma passagem mais prolongada e estável no escalão máximo do futebol português.
Numa dessas noites quentes de verão, com a rádio ligada para ouvir um dos programas de referência da infância – a edição da noite da “Bola Branca”, na Rádio Renascença – já na sua parte final, surge em jeito de rodapé uma referência a uma contratação de última hora feita pelo recém promovido GD Chaves… “Edinho, brasileiro melhor marcador da 2ª divisão na temporada anterior ao serviço do Portimonense vai jogar pelos transmontanos na época 1994/95.”
Lembro-me de ter ficado radiante e ansioso por ver isso confirmado, e que não tivesse ouvido mal na rádio ou confundido os nomes em causa…como a era da internet ainda estava longe de chegar, e não podendo recuar na box para ver e ouvir de novo, restava passar essa noite e aguardar pela compra do jornal do próximo dia para ler as últimas. E sim, era mesmo verdade…o Edinho ia ser jogador do GDC!
Convém relembrar que face ao desempenho evidenciado na época de subida, Gilmar, o melhor marcador do Chaves despertou o interesse de um Guimarães ambicioso e historicamente atento ao que se passava para lá do Marão. Concretizado o abandono do brasileiro, o ataque flaviense viu-se privado da sua principal referência no ano anterior, numa época onde, apesar do sucesso final, a escassez de alternativas válidas foi evidente e quase fatal.
Neste cenário, a chegada de Edon do Amaral Neto, “Edinho” para os amigos, revestia-se de primordial importância para revitalizar o ataque flaviense no ataque à manutenção na época 1994/95. Os 16 golos em Portimão eram um excelente cartão de visita (curiosamente tendo ficado a seco nos dois jogos contra o GDC), adicionados aos relatos na altura que apontavam para um ponta de lança clássico com faro apurado para o golo.
Numa época que se avizinhava complicada, tanto a equipa como o jogador entrariam com o pé direito na competição, com vitórias e golos decisivos do brasileiro que viriam a ser fundamentais para o desfecho final da temporada…curiosamente a seca goleadora que o avançado conheceu até ao final da 1ª volta coincidiu com um momento negativo da equipa onde esta não conheceu a sabor da vitória durante 10 jogos consecutivos. O volte face começa a construir-se à jornada 16 com a volta aos golos de Edinho, num jogo contra o Sporting (historicamente relembrado por outro episódio…os pés do guarda redes Baston) onde apesar do contributo do brasileiro a vitória ainda não surgiria.
Mas as bases estavam lançadas e na jornada seguinte acontece aquele que foi porventura o momento do ano, com a retumbante vitória no Bessa, por 1-4, e com o contributo desbloqueador do goleador canarinho. Foi o pontapé de saída para uma segunda volta exuberante, onde o seu contributo foi decisivo com 9 golos (quase todos decisivos e sinónimos de pontos acumulados na tabela), incluindo mais um marcante na última jornada contra o adversário onde tudo começou – o Boavista de Manuel José – é que garantiu matematicamente a manutenção na última jornada.
Para a história fica o avançado que vivia para o golo, mesmo que incorporado num biótipo físico que seria pouco consensual ao dia de hoje, por ventura um dos últimos representantes que tivemos do “goleador de um só toque” (para a baliza) que, mesmo não sendo determinante no envolvimento ofensivo, era voluntarioso na pressão e letal na finalização. A concretização dos objetivos dessa época muito se ficou a dever à presença do saudoso avançado brasileiro que marcou uma era (ainda que curta) no Municipal.
Como a história é cíclica e tende a repetir-se, para mal dos nossos pecados esta não demorou muito a escrever-se e de novo com os mesmos atores – com o Guimarães a pescar no sítio do costume mais um nome que também, na sua história, deixaria a sua marca.
Quanto a nós, apenas nos restava esperar por mais uma noite quente de verão, com o ouvido atento ao que a rádio a pilhas diria a qualquer momento. Mais um amor de verão a caminho? Sim, porque o Edinho foi um bonito amor de verão…mas nem sempre foi assim. Mas bem…isso fica para outro dia!
E vocês? Qual foi o vosso maior amor de verão desportivo?