Jorge Plácido pelo GD Chaves

Veloz como uma flecha, mágico com a bola e de pontapé especialmente refinado. Jorge Plácido conseguiu entrar no lote dos lendários do GD Chaves em apenas duas épocas nos Valentes Transmontanos. Uma marca da era dourada do Desportivo.

Curva e contracurva até Trás-os-Montes

Jorge Plácido: O Mágico
Plácido, segundo em baixo a contar da esquerda, em jogo do GD Chaves na I Divisão

Quem o viu jogar lembra-se da genica com a bola. Ia para um lado, virava para o outro. Curiosamente, foi assim que fez a viagem de Setúbal até Chaves em 1985. Pela montanha, de autocarro, Plácido deixou o Vitória FC para reforçar o Desportivo. “Na primeira viagem demorámos dez horas. Curvas e mais curvas pelo Marão, fiquei logo desanimado. Era outro país”, recordou o próprio em entrevista ao Maisfutebol em 2020.

Até tinha acordo para assinar pelo Sporting de Braga, mas acabou a vestir de azul-grená. Uma decisão que o jogador e os adeptos flavienses iriam agradecer.

O Mágico entra em ação

Jorge Plácido: O Mágico
Jorge Plácido, à direita, ao lado de Jorge Silva no GD Chaves

A estreia aconteceu logo no primeiro jogo do Chaves na Primeira Divisão, mas foi cinzento. Logo aos 36 minutos, acabou substituído por Pio, num empate 1-1 com a Académica. Repetiu a titularidade no jogo seguinte, uma vitória por 2-0 com o Belenenses na estreia no Municipal.

O primeiro golo chegou à quarta jornada. Foi um Chaves-Boavista. Depois da hora de jogo, um remate certeiro de Plácido deixou as bancadas do Municipal em festa. O jogo sorriu mesmo os flavienses, que venceram por 2-1 (Kiki fez o outro golo). Numa época de estreia fantástica, o avançado somou quatro golos em 26 jogos.

O melhor veio na temporada seguinte. Jorge Plácido fez golos a torto e a direito. Marcou ao Varzim, Marítimo, Farense e até ao Sporting, numa extraordinária vitória por 2-1 no Municipal: o mágico aparece nas costas da defesa, passa pelo lendário Vítor Damas e só precisou de atirar para a baliza aberta e fazer o golo que confirmou o primeiro triunfo flaviense sobre os leões. Ao todo foram oito golos em 27 jogos de azul-grená nessa temporada.

“Tínhamos uma excelente equipa. Nos meus dois anos em Chaves era muito raro perder em casa. Fonseca, Padrão, Kiki, Radi, Jorge Silva, António Borges, era uma equipa muito forte. Fizemos a melhor época de sempre do Chaves com o treinador Raul Águas. Mas o melhor de todos era o Radi. Com a bola nos pés era fantástico. A bola saía sempre redondinha e o Radi deu um acréscimo de qualidade muito grande”, recordou o próprio Plácido ao Maisfutebol.

Plácido: um jogador do GD Chaves na seleção de Portugal

A época foi tão estrondosa de Jorge Plácido que conseguiu um feito ainda mais impressionante. Ainda a representar o Desportivo de Chaves, foi chamado para representar a Seleção Nacional.

A estreia com a camisola das Quinas aconteceu num jogo particular, em fevereiro de 1987, frente à Bélgica. Entrou ainda na primeira parte para o lugar de Nunes, mas ficou em branco. O momento de glória veio um mês depois.

No estádio dos Barreiros, no Funchal, Plácido foi titular no duelo com Malta. Logo aos 11 minutos, uma cabeçada certeira do avançado deu o 1-0 para a equipa lusa. Depois veio o desastre, ao permitir a reviravolta adversária.

Já nos últimos 15 minutos, veio o momento da tarde e um dos melhores golos da carreira do mágico. Canto curto batido pelo próprio, a bola é devolvida e Plácido atira forte e colocado ao ângulo da baliza para o 2-2 final. Um golaço do atleta do Desportivo.

A saída para o FC Porto campeão europeu

Jorge Plácido: O Mágico
Um onze do GD Chaves na época 1985/86. Plácido é o segundo em baixo, a contar da direita

Estávamos em maio de 1987. Em casa, na cidade de Chaves, Plácido vê pela televisão a final da Taça dos Campeões Europeus. Em Viena, FC Porto e Bayern Munique defrontavam-se. Na mão do avançado estava já um acordo verbal com o Benfica.

Vista a vitória azul-e-branca, que levantou a ‘orelhuda’ pela primeira vez, chega a conversa com Emílio Macedo, presidente do Chaves: “vais jogar no campeão europeu.” Confuso, Plácido diz que de nada sabia. “Prepara-te, o Pinto da Costa vem cá na terça-feira fazer-te uma visita”, disse o histórico dirigente flaviense, com uma palmada nas costas da coqueluche do plantel azul-grená.

Depois de um almoço de seis horas com o presidente portista, ficou confirmada a saída do Desportivo. Ainda tinha dois anos de contrato, mas acabou por assinar pelo então campeão europeu, terminando duas épocas a brilhar com a camisola flaviense.

“Acabei por adorar jogar lá. Fui muito bem recebido, o clube tinha um bom grupo de atletas, uma equipa muito forte. O meu filho Joel (o conhecido rapper Jimmy P) tinha só um ano. Tivemos uma vida social muito engraçada, o Desportivo de Chaves era o centro de tudo. Vivíamos o futebol 24 horas por dia, entre o clube e as famílias dos atletas. Havia o sentimento do ‘ser transmontano’”, recordou a glória flaviense.

PERFIL DE JORGE PLÁCIDO

Nome: Jorge Manuel Plácido Bravo da Costa

Data de nascimento: 19-6-1964

Naturalidade: Luanda, Angola

Posição: Avançado

Clubes na carreira: Amora (1981/82 a 1982/83), Vitória FC (1983/84 a 1984/85), GD Chaves (1985/86 a 1986/87), FC Porto (1987/88 e 1990/91), Sporting (1988/89), Racing Paris (1988/89 a 1989/90), Salgueiros (1991/92), Cretéil (1992/93), Lusitanos (1993/94 a 1996/97 e 1998/99 a 2000/01), Saint-Denis (1998), ADC Lobão (2003/04)

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