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A primeira subida do GD Chaves à Primeira Divisão foi o momento dourado que fez do Desportivo o histórico do futebol português que todos reconhecem.

Foi em 1984/1985, depois de muito sangue, suor e lágrimas, que os Valentes Transmontanos terminaram uma epopeia recheada de golos, choro e… Bombos.

Esta é a história que tem estado nos confins do arquivo do jornal A Bola e que a Comunidade Azul-Grená traz para todos os adeptos flavienses. 

*Agradecemos ao jornalista Rui Miguel Tovar, que teve a amabilidade de nos enviar a crónica do jogo da subida. 

Alcançar a tão adiada subida

Raul Águas como jogador do Desportivo de Chaves
Raul Águas, avançado do GD Chaves, tornou-se treinador-jogador e alcançou a subida de divisão

Primeiro, um contexto. O Desportivo chegou ao derradeiro jogo da liguilha de subida com o peso de um objetivo adiado época atrás de época. Até subida direta podia ter sido alcançada, mas caiu por terra.

Pelo meio, o treinador Álvaro Carolino era despedido logo na segunda jornada da fase final. Entrou, assim, o treinador-jogador Raul Águas.

Na última jornada só a vitória interessava para ficar no primeiro lugar da liguilha com Rio Ave, União Leiria e União Madeira. Pelo meio corria o rumor de “manobras de bastidores”. Dinheiro oferecido aos jogadores do União Madeira para levarem a melhor sobre o Desportiva, beneficiando o Rio Ave.

Tudo se decidiria no Funchal.

O jogo União Madeira vs GD Chaves

Golos, lágrimas e bombos: A epopeia da 1.ª subida do GD Chaves à Primeira Divisão
Recorte do jornal A Bola a descrever a subida do GD Chaves (Foto gentilmente cedida por Rui Miguel Tovar)

No jogo decisivo, Raul Águas apostou neste onze: Álvaro Reis na baliza; defesa com Berto, Vivas, Amândio Barreiras e Alfredo Guimarães; Miguel Gonçalves, Paulo Rocha, Kiki e António Borges; ataque com José Albano e César.

Apesar da importância do jogo, a primeira parte foi amorfa. Kiki salvou um golo feito em cima da linha e uma bola ainda foi à barra. O treinador flaviense mexeu antes do intervalo, lançando António Jorge Galvão. Depois veio o pior. Falha na defesa, Hilário deu para Baltasar e estava feito o 1-0 para o União Madeira.

Das cabinas veio um Chaves revigorado. Raul Águas lançou-se a si próprio para o jogo, ao lado de César na frente de ataque e com Borges e António Jorge nas alas. Logo no primeiro minuto, penálti para o Desportivo, desperdiçado pelo próprio Raul Águas.

Com os nervos em franja em Trás-os-Montes, César atirou ao poste logo a seguir. Mas calma, que à terceira foi Miguel Gonçalves a rematar certeiro para o 1-1, com assistência de Águas. Logo a seguir, um cruzamento foi desviado pelo guarda-redes do União, sobrando para Borges que atirou de primeira para o 2-1.

Depois, novo momento gelado. Penálti polémico assinalado para os madeirenses e estava feito o 2-2. A cerca de 15 minutos fim, nova contrariedade: Num lance de insistência, faturavam o 3-2.

Os últimos minutos prometida ser frenéticos. Borges pega na bola, dá para Kiki. Uma simulação e sai remate rasteiro e cruzado para o 3-3. A dez minutos do fim, chegou o momento de glória: jogada pela direita, a bola sobra para César que atirou forte e alto para o 4-3 final. Era a festa azul-grená na pérola do Atlântico.

Festa azul-grená na Madeira

Golos, lágrimas e bombos: A epopeia da 1.ª subida do GD Chaves à Primeira Divisão
César e Kiki celebram com os adeptos flavienses ainda na Madeira após a subida

Após o apito final, foi a euforia dos muitos flavienses nas bancadas. Os bombos soavam com estronto, as bandeiras ao alto. No relvado, abraços, alegria e lágrimas de um objetivo cumprido: o Chaves passou a ser de Primeira!

Com dificuldade, os jornalistas chegaram a Raul Águas, emocionado. O timoneiro teve a palavra: “mostramos a toda a gente que o nordeste também é Portugal. Os nervos impediram que conseguíssemos grandemente que atingissemos o nosso objetivo de ganhar mais cedo e, apesar da pontinha de sorte que tivemos, julgo que merecemos este saboroso triunfo. Estamos todos de parabéns, mas sobretudo aquelas gentes generosas do nordeste para quem vai esta vitória. Estamos na I Divisão”, disse ao jornal A Bola.

O sofrimento foi grande entre os Valentes Transmontanos. “Há três semanas que não consigo dormir”, admitiu Raul Águas.

O jogador passou a ser só treinador, e que decisão de sucesso se revelaria mais tarde. “Vou acabar como jogador, a minha capacidade de sofrimento chegou ao fim.”

Os jogadores uniram-se aos adeptos flavienses na festa na Madeira. Uma celebração forte e que viajaria de avião com o plantel rumo a Chaves, onde os heróis do Desportivo seriam recebidos em apoteose.

Trás-os-Montes em êxtase com subida inédita

Um adepto festeja a subida na varanda da antiga sede do GD Chaves
Um adepto festeja a subida na varanda da antiga sede do GD Chaves

A 1300 quilómetros, a euforia saiu à rua em Chaves. Os flavienses encheram as ruas, as bandeiras azul-grená pintaram o céu. Foi a loucura com a subida do Desportivo.

Golos, lágrimas e bombos: A epopeia da 1.ª subida do GD Chaves à Primeira Divisão
Loucura e festa dos adeptos no centro de Chaves

“Íamos numa camionete aberta a celebrar a vitória do Desportivo”, recordou o lendário Albano Chaves em 2013, numa entrevista à Sport TV pelo antigo jogador e fisioterapeuta do clube.

Golos, lágrimas e bombos: A epopeia da 1.ª subida do GD Chaves à Primeira Divisão
Carrinha de caixa aberta cheia de adeptos do Desportivo

O coração de Trás-os-Montes foi a cidade de Chaves. Estava conseguido um objetivo antigo das gentes transmontanas, que passaram a ter holofotes de Primeira a iluminar a região.

Golos, lágrimas e bombos: A epopeia da 1.ª subida do GD Chaves à Primeira Divisão
Bandeiras azul-grená deram cor ao dia mais glorioso dos Valentes Transmontanos

A festa prolongou-se e não parou. Até quando o autocarro da equipa, horas depois, chegou a Chaves. “Nós queríamos sair e não nos deixavam”, recordou António Borges, que descreveu uma “festa única e maravilhosa”.

Golos, lágrimas e bombos: A epopeia da 1.ª subida do GD Chaves à Primeira Divisão
Adeptos saltaram para cima os carros e desfilaram pela cidade após a vitória

E assim se viveu o episódio mais bonito da história azul-grená. Assim, o Grupo Desportivo de Chaves tornou-se no 16.° clube a participar na Primeira Divisão.

 

 

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