“A única coisa de que tenho saudades é do Chaves.” As palavras são do mister Raul Águas em 2012, em entrevista à A Bola TV, numa recordação cheia de nostalgia de um dos treinadores mais marcantes da história azul-grená.
Foram 106 jogos com 40 vitórias asseguradas no conjunto azul-grená. Mas melhor que os números só as conquistas, com a primeira passagem pela I Divisão e a primeira qualificação europeia a estarem assinadas pelo lendário treinador flaviense.
Um veterano em Trás-os-Montes
Enquanto jogador, Raul viveu com o peso do nome de família: o tio José foi bicampeão europeu pelo Benfica e o primo Rui, anos mais tarde, foi um ícone no estádio da Luz e da seleção nacional.
Já Raul fez carreira na Bélgica e em clubes medianos portugueses até chegar a Trás-os-Montes em 1983/1984, já a pensar na reforma. Um casamento que mudou a história dos Valentes Transmontanos e do próprio Raul Águas.
Jogou durante duas épocas mas, em vésperas da liguilha de subida à I Divisão, um desentendimento entre a direção e o treinador Álvaro Carolino atirou Raul Águas para a cadeira do poder.
Estreia dourada na história azul-grená
Foi como jogador-treinador que Raul Águas entrou para o decisivo jogo com o União Madeira, que decidia a subida à I Divisão: a perder por 3-2, Kiki restabeleceu o empate e os Valentes Transmontanos conseguiram mesmo dar a volta para o 4-3. Uma vitória que atirou o GD Chaves para o topo do futebol português pela primeira vez na história.
Muito do trabalho desta conquista tinha sido feito pelo antecessor, mas na I Divisão Raul Águas provou o que valia.
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Primeira época, com um plantel recheado com a qualidade de Jorge Plácido, Fonseca ou António Borges, o timoneiro flaviense levou os Valentes Transmontanos ao sexto lugar. Feito histórico na época de estreia de uma equipa transmontana. Mas o melhor estava para vir.
O timoneiro do Desportivo de Chaves europeu
Verão de 1986. Recém-saído do Mundial, o búlgaro Radi chega ao Municipal para reforçar o GD Chaves. Uma contratação surpreendente, mas que vem mudar o futuro flaviense.
13 golos em 28 jogos assinam uma temporada cheia de golos do avançado, onde se juntou a qualidade de Jorginho, Gilberto, Rogério Pimenta ou Jorge Silva. Mas mais impressionante foi a classificação final: quinto lugar e qualificação assegurada para a Taça UEFA.
Em 1987/1988, chegou a estreia lendária nas provas europeias. Logo no sorteio, o GD Chaves é o primeiro sorteado, com duelo frente ao U. Craiova da Roménia.
Na primeira mão, um sabor agrídoce: os flavienses conseguem estar a ganhar por 2-0, mas permitiram a reviravolta e voltaram a Portugal a precisar se um triunfo.
No Municipal, a estrela foi Vermelhinho: o primeiro golo tem a assinatura de Slavkov, vencedor da bota de Ouro que jogou no Municipal. Mas o tento da vitória saiu de uma bela jogada do avançado ex-FC Porto, que marcou o golo da vitória.
Triunfo por 2-1 que levou o GD Chaves à segunda ronda da prova, onde sucumbiu aos pés do Honvéd da Hungria. Derrota nos dois jogos que eliminaram os flavienses, mas a história já ninguém tirou.
O adeus de uma lenda
Depois de ter uma glória sem igual no GD Chaves, vários interessados chegaram de outros clubes. A saída ainda se foi adiando, inclusivé com uma longa novela acerca de uma possível saida para o Sporting.
No entanto, o adeus de Raul Águas veio mesmo a acontecer, com o treinador a deixar Trás-os-Montes para comandar o Boavista. Ainda chegou a passar pelo Sporting, mas a carreira de Raul viu pouco sucesso desde a saída do conjunto azul-grená.
Para trás fica a história dourada que escreveu nos Valentes Transmontanos, onde é o segundo técnico com mais jogos. Esteve nos grandes momentos do passado flaviense e será para sempre uma lenda azul-grená.
Raul Águas foi, de facto, uma figura que marcou indelevelmente a História do Grupo Desportivo de Chaves. para mim, e certamente para muitos flavienses, dificilmente surgirá um homem que confira ao DESPORTIVO tão brilhante carreira.