Treinador e táticas do GD Chaves

Foto: GD Chaves

“Conseguirão algum dia os sistemas de jogo assentes numa linha de três defesas centrais, serem dominantes a nível global?”

Num plano teórico, as vantagens deste modelo de jogo parecem sempre muito apelativas, o que torna a resposta fácil. A sua dinâmica permite, no papel, criar inúmeras situações de vantagem numérica pois tanto se pode proteger com uma linha de cinco, em organização defensiva, como iniciar a transição ofensiva assente num meio campo bem composto, de quatro ou cinco elementos.

É recorrente ouvir que a maioria das equipas “não estão confortáveis a atacar e/ou defender” linhas com esta organização.

Para quem aprecia uma saída de bola apoiada e em condução tem aqui uma boa fonte de satisfação…assim os executantes o permitam. A pressão na saída contrária, a variabilidade no uso da profundidade lateral, ou do jogo interior, coabitam com um maior risco, resultante de posicionamentos arrojados (muitas vezes de homem para homem) e onde os erros tendem a ser mais vezes punidos.

Mas se assim é, porque tarda tanto em implementar-se de uma forma mais convincente? Porque tarda em descolar-se da ideia de que quem aposta neste modelo invariavelmente vai “defender mais” e “fechar-se lá atrás”? Será porque ainda é inevitável que se associam estes modelos a equipas italianas e ao seu histórico “catenaccio”? Se é verdade que os primórdios deste dispositivo tático estão umbilicalmente ligados a alguns dos maiores colossos italianos – desde a Juve/Itália de Conte, exponenciado ainda ao dia de hoje pelo 3-5-2 do Inter de Inzaghi – existem mais exemplos da sua implementação, com mais ou menos sucesso, tais como o 3-4-3 de Amorim no Sporting, a tentativa (falhada?) de formatação da nossa seleção durante a vigência de Martinez, ou o novo FC Porto de Anselmi.

Pegando nesse exemplos, são bem evidentes as causas do maior ou menor grau de sucesso que todos viveram. Se no caso de Amorim parecia que cada peça que possuía no seu plantel nasceu polida para encaixar e desempenhar na perfeição as características específicas de cada posto, no caso da seleção pareceu evidente desde o início a tentativa de “martelar” alguns jogadores em postos específicos nos quais facilmente se evidenciava não estarem minimamente confortáveis.

Se juntarmos a isso a existência de “titularidades por decreto”, num fato de gala cujo tamanho não é seu, o caminho para o sucesso será sempre mais íngreme. Isto já para não falar em casos extremos, onde se apanha um veículo em pleno movimento e se tenta, a todo o custo, impor uma inversão ideológica, sem elementos para tal, expondo-a ainda mais ao erro, numa fase de falta de auto-confiança gritante, elevando o dogmatismo tático a um patamar que não parece aconselhável, qualquer que se seja o arranjo numérico dos elementos em campo.

Daí surge a questão: deverá o modelo nascer e ajustar-se à matéria prima existente, ou deverão os peões de jogo ter a capacidade de entender diferentes formas de abordagem ao jogo?

Pegando num exemplo aleatório mas cuja especificidade é marcante para estes sistemas, se eu tiver um “Carvajal” disponível (ou seja, um fantástico lateral) deverei escolher um modelo que o ajude a potenciar as suas virtudes, ao mesmo tempo que protejo as suas limitações naturais, ou deverei obrigar à sua formatação para um “Dumfries”, corredor de fundo, e um ala de eleição? 

Em suma, apesar de toda apelatividade que o sistema possa suscitar (e que pessoalmente compreendo) o mesmo terá que estar sempre e obrigatoriamente acompanhado por uma escolha (ainda mais) criteriosa dos seus executantes, com pouco espaço para adaptações e tapa-buracos. As suas especificidades inatas assim o exigem.

Assim sendo, estarão também as bancadas preparadas para assimilar uma nova abordagem e sobre a qual estão pouco habituadas? Noutro âmbito, deverão as direções desportivas aceitar com naturalidade a construção de um plantel tão específico e ao encontro das ideias do seu timoneiro, tendo sempre como pano de fundo a possibilidade do projeto não alcançar os objetivos propostos e assim condicionar inevitavelmente o momento da sucessão, onde o homem que se seguir, ou partilha os conceitos fundamentais do seu antecessor, ou vê cair nos seus braços um desconhecido?

Quais são as vossas opiniões? 

Lemos os vossos comentários!

1 thought on “Hoje jogamos em “3-qualquer-coisa”

  1. O futebol está transformado num negócio, mas é cada vez menos um bom espetáculo. Se tivessemos de pontuar numa escala de 0 a 10, a qualidade dos jogos da 1ªliga, inclusivé, dos 3 grandes, quantos jogos mereceriam uma avaliação superior a 7? Meia dúzia já exagerando. Nesta 2ªliga então, acima de 6 são raríssimos.
    É preciso transformar cada jogo num bom espetáculo que atraia mais pessoas aos estádios e dessas pessoas q mais se tornem sócias do clube.
    Digo isto para chegar ao vosso tema, isto é, uma boa gestão desportiva decide se quer ter um treinador com perfil para o modelo de jogo que pretende no clube ou se opta por não ter essa ideia de jogo e contrata um, dois ou três por época em que cada um tem as suas ideias.
    Na contratação de jogadores urge saber para que modelo de jogo se está a contratar, pois só assim, as características destes irão encaixar no que foi idealizado.

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