Arrieta, Ricardo Chaves e Tony – trio lendário do GD Chaves – juntaram-se à “mesa” virtual do Coletivo Transmontano, onde recordaram muitos dos momentos vividos de azul-grená. Dos salários em atraso, às peripécias no balneários, passando ainda pelo respeito pelos capitães e as juras de amor ao Desportivo, foram muitas as histórias contadas pelos três antigos jogadores dos Valentes Transmontanos.

 

Arrieta: «Treinar à experiência? Não é preciso fazer testes num Mercedes»

 

A passagem de Arrieta pelo Desportivo foi de grande sucesso, mas podia nem ter acontecido após um desentendimento com o então presidente Baltasar Ferreira: «Cheguei aos escritórios do Chaves para assinar, mas disseram-me que tinha de treinar à experiência e recusei. O Baltasar já suava e dizia que quando compra um carro, tem de testá-lo, mas respondi que se for à Mercedes, não precisa fazer testes. Cumprimentei toda a gente e fui embora», revelou o espanhol.

Arrieta luta pela bola num jogo frente ao Estrela da Amadora em 2001/2002, no Municipal Fonte: GD Chaves Antigo

 

O regresso a Trás-os-Montes aconteceu um mês e meio depois: «Entretanto assinei pelo Huesca, mas o Baltasar ligou-me para assinar sem fazer testes. Falei com o clube e tive de gastar do meu bolso seis mil euros para deixar o Huesca e ir para o Chaves», disse.

 

O goleador basco foi ainda relembrado do jogo com o Santa Clara em 2003/2004, quando falhou três penáltis seguidos: «Ainda hoje penso nesse jogo. Expulsei o guarda-redes depois do segundo penálti, entrou o suplente e voltei a falhar», recorda Arrieta, que se lembra bem da estreia a marcar no Chaves: «Nunca me vou esquecer do jogo contra o Maia. Ganhámos 3-1 e marquei dois golos. Foi um antes e um depois na minha carreira», disse.

 

Tony: «É preciso tomates para jogar no Chaves»

 

O sempre animado Tony falou mais a sério sobre a falta de transmontanos no plantel do Chaves, uma situação que é preciso refletir: «Antigamente não havia as condições que há agora, mas não saíam jogadores? Riça, Chaves, João Alves, Geromel. Porque agora não saem? É preciso refletir. Hoje jogar no Chaves é sinónimo de grande responsabilidade, não é qualquer um que pode jogar lá. Para mim, a nível de paixão e responsabilidade, é um clube como o Vit. Guimarães. Ou tens tomates para jogar no Chaves, ou não tens», disse o antigo lateral-direto.

Tony luta pela bola com Rui Dolores, num jogo frente ao P. Ferreira Fonte: Facebook Tony

 

Mas dos tempos que passou por Chaves, Tony recorda a camaradagem no plantel flaviense, que ajudava a ultrapassar as dificuldades que o clube vivia: «Em Chaves, em 40 meses recebi 16. Nós passámos muito e que nos fez levar o clube até ao fim era o grupo, a união, a paixão e o sonho de poder singrar no futebol, ganhar algum dinheiro e ajudar as nossas famílias», disse.

 

Tony revelou ainda que gostava de regressar ao Desportivo: «Se for em prol do Chaves, podem contar comigo. Se for em prol da evolução de um miúdo das escolas, podem contar comigo. Não é o dinheiro que me move, seja nos sub-19, equipa B ou equipa principal. Há pessoas tão transmontanas como eu, mas não há ninguém mais transmontano que eu».



 

Ricardo Chaves: «Quando o Paulo Alexandre falava, eu nem levantava as orelhas»

 

Das três glórias que participaram na conversa, Ricardo Chaves foi a que mais vezes jogou pelo Desportivo e recordou o dia em que conheceu Tony: «Estava com o João Alves e o Tony começou a cumprimentar-nos e a dizer “Temos de ser nós, caralho! É para subir!”, e nós a pensar: “Que maluco, de onde vem este gajo…”», disse o antigo capitão flaviense.

 

Ricardo Chaves com a camisola GD Chaves em 2012/2013 Fonte: Diário Atual

«Depois fomos para estágio, mas primeiro passámos pela universidade para fazer os testes. Chegamos a Vidago, há um travagem e ouvimos barulho e confusão. Foi o Tony, que adormeceu e bateu com a cabeça no cinzeiro. Ficou a jorrar sangue e nós sem saber se nos ríamos ou se ficávamos preocupados».

 

O antigo capitão do Chaves recordou ainda como se olhava para as referências flavienses na altura: «Olhavas para um Paulo Alexandre, ele dizia-te alguma coisa e tu nem levantavas as orelhas. Ele transmitiu-nos os valores de ser transmontano e de jogar no Chaves. O clube tinha referências que te suportavam e refugiávamos nos mais velhos».

 

Ricardo Chaves revelou ainda qual o título na carreira que lhe deu mais orgulho: «Só tive três títulos na carreira, não vou desrespeitar o Vit. Setúbal, mas o título que consegui no Chaves, que foi só da II Divisão B, foi uma loucura para mim».

 

A sauna de Lino e o talento perdido de Pedro Pinto

 

Também houve tempo para outras histórias do tempo em que vestiram de azul-grená e Tony, sempre ele, lembrou o dia em que um jogador brasileiro apareceu no estádio à procura de Castanheira Gonçalves para assinar contrato. Era lateral-esquerdo, a mesma posição do experiente Lino, que não achou grande piada à concorrência:

Tony com Lino e Gualter, no relvado do Municipal Fonte: Facebook Tony

 

«Então o Lino disse-lhe: “Quando for para negociar, tem cuidado. O Castanheira vai sempre por baixo, por isso, se ele disser mil, tu pede dois mil. Mas espera ali naquele quartinho que ele já aí vem” e apontou para a sauna. Ligaram a sauna e passado cinco minutos o rapaz já estava todo suado. No final, nem assinou», lembrou Tony, para riso geral dos participantes.

 

O antigo lateral falou ainda de Pedro Pinto, um talento perdido flaviense, que teve uma “tirada” caricata após dar uma vitória ao Chaves: «Estávamos empatados 3-3 com o Paços de Ferreira e entrou o Pedro Pinto. Pegou na bola, tentou cruzar do lado esquerdo, fez um chapéu ao guarda-redes e fez golo. Ganhámos 4-3 e no dia a seguir ele foi entrevistado e a palavra do Pedro Pinto foi: “com mais uns centímetros, eu era modelo”», disse Tony, que lamentou o muito talento mas pouca cabeça do extremo.

 

Foram mais de duas horas de conversa entre as três lendas flavienses, que concluíram com um desejo: voltar a representar, de alguma maneira, o Desportivo de Chaves no futuro.

 

 

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