Fonte: Facebook Calina

Fonte: Facebook Calina

Durante três anos, Carlos Calina foi treinador dos juvenis do GD Chaves, onde foi campeão distrital da AF Vila Real e conseguiu consolidar a equipa nos campeonatos nacionais, mas acabou por sair a meio da época 2019/2020. Orgulha-se do que conquistou na formação flaviense e dos jogadores que ajudou a lançar, mas lamenta que não haja um aproveitamento dos jovens da formação por parte da equipa principal. Carlos Calina, em exclusivo, em entrevista para a Comunidade Azul-Grená.

 

Comunidade Azul-Grená (CAG): Que projeto lhe foi apresentado quando chegou aos juvenis do GD Chaves?

 

Carlos Calina (CC): Na verdade, o projeto nunca me foi apresentado. O que me foi pedido quando cheguei para substituir um colega foi para salvar a equipa da descida de campeonato. Como fomos muito em cima do tempo e não conseguimos [a manutenção], preparámos a época seguinte na distrital e o objetivo era a subida, que foi conseguida. Depois de conseguirmos a subida e conquistar a Taça da AF Vila Real – um momento histórico só com vitórias e 212 golos marcados e 6 sofridos, brilhante mesmo na distrital – fomos preparar e estruturar o nosso futuro, sabendo que íamos ter de criar uma base de dados e essa base de dados fui eu que a criei.

 

CAG: E que condições tiveram para preparar a época seguinte?

Calina com a medalha de campeão de juvenis da AF Vila Real Fonte: Facebook Calina

 

 

CC: As condições foram tentar valorizar e ajustar os atletas que tínhamos e, nesse mesmo ano, começámos a querer ir buscar alguns atletas transmontanos, fizemos uma pesquisa numa base de dados à procura de atletas e trouxemos quatro jogadores: Mário Rui, que terminou esta época o último ano de júnior, o Passas, o Maneta e o Bruno Silva, que fomos buscar ao Diogo Cão e no ano passado esteve no Famalicão. Foi já a pensar no ano seguinte, porque eram juvenis de primeiro ano.

 

CAG: O objetivo era criar continuidade para os juniores?

 

CC: O objetivo era a valorização do atleta. Dentro das condições que o clube tinha e estava a criar, fomos adquirindo algumas situações importantes para o crescimento, como o complexo e ter as equipas no Nacional. Isto daria-nos alguma responsabilidade para pensar no futuro, mas a própria estrutura da formação não tinha alguma coisa decidida. Havia alguns objetivos e fomos criando algumas dinâmicas com o coordenador Carlos Felisberto.

 

CAG: Como foi trabalhar com o Carlos Felisberto?

 

CC: Foi fácil, porque é alguém com muita competência na organização e que fez um trabalho excelente, criou hábitos no clube que não existiam e todos juntos, a falar a mesma voz, conseguimos atingir objetivos e chegar a patamares muito bons. Depois, o Carlos tinha o desejo de treinar: eu sempre lhe disse que ele tinha muita qualidade na organização, mas também respeitei o desejo dele querer treinar. Foi pena, porque o clube podia ter continuado a crescer na organização.

 

 

CAG: Depois da saída do Carlos Felisberto, como ficou a organização das camadas jovens?
Calina com a equipa de juvenis que garantiu a manutenção no campeonato nacional Fonte: Facebook Calina

 

 

CC: A ideia ficou a mesma e a continuidade foi a mesma. O Bruno Batista, mesmo com as ideias que ia impondo, a linha foi praticamente a mesma e aí funcionou muitíssimo bem. Mesmo os conteúdos de trabalho e com os treinadores trabalhou na perfeição. Aqui ou ali podíamos não estar de acordo, mas isso faz parte do processo. No final, pensávamos todos num objetivo comum – que era o clube – e no crescimento dos atletas dentro da formação.

 

 

CAG: Depois de duas excelentes épocas no campeonato nacional, quando é que começou a pensar em sair do clube?

 

CC: A minha saída deve-se à minha vontade, por uma razão óbvia: em três anos criei uma base de dados de atletas e uma valorização dos mesmos nunca alcançada no clube. É o caso do Mesquita, que não estava em sintonia com a ideia atual do futebol, a ambição e o querer, mas consegui introduzir-lhe todos esses dados e ele, entre outros, perceberam que este era o caminho, como o Zezinho. Tentamos tudo com outros atletas, uns conseguimos e outros não, e depois foi a base de dados…

 

CAG: A base de dados não foi aproveitada?

Calina esteve três épocas à frente dos juvenis do GD Chaves Fonte: Facebook Calina

 

 

CC: Neste momento, como tantos jogadores a saírem, pode-se admitir que essa base de dados não está a ser aproveitada. Mas isto é política do clube e os responsáveis é que têm de responder por isso. No nosso trabalho e naquilo que fomos pondo e procurando para pôr em prática, foi bem conseguido e só tenho de estar orgulhoso, eu e a minha equipa técnica, por terem saído tantos jogadores e com tanta qualidade e vê-se o caminho que estão a tomar: para Braga, para a Académica, Guimarães, Boavista… E outros que ainda podem ir.

 

CAG: No início da época o clube ofereceu contratos a Tomás Igreja e André Liberal. Porque é que o mesmo não aconteceu com jogadores como o Bica, que já era internacional sub-17?

 

CC: De facto, o clube fez contratos a esses atletas, como também fez [contrato] de formação ao Pedro Lage e a outros. Mas a verdade é que fez proposta ao Bica, que tenho conhecimento disso, como também fez ao Vidazinha e chegou a ter algum contrato com o Botelho. A verdade é que não vos consigo responder porque a minha área é treinar e não a parte administrativa, mas tenho conhecimento que o clube tentou. Agora se tentou pelo melhor caminho ou se foi mais ou menos objetivo, também não sei responder. Não faz parte dos meus processos.

 

CAG: Como é que define a situação atual, ou até à altura em que saiu, da formação do Chaves?

 

CC: A situação até ter saído era normalíssima, com os sub-15 com o objetivo conseguido, sub-17 idem e os sub-19 no caminho certo para poderem subir à I Divisão e tudo indicava que ia ser assim. O momento atual já não é um momento que tenha conhecimento, até porque já não trabalho no mesmo, mas o que posso dizer pelo que vou lendo e sabendo é que ficou triste. Fico triste e com uma mágoa grande porque a valorização dos atletas estava a ser bem feito, com princípio, meio e fim, e não tenho dúvidas que estes miúdos iam ser o sustento próprio dos sub-19, da equipa B e tenho a firme certeza que alguns, dois ou três, chegariam à equipa A, para jogar e passarem de uma promessa a uma opção válida. Claro que isto precisa de tempo e o tempo anda devagar, é preciso trabalho, acreditar e perceber que o crescimento dos mesmos precisa de boas bases.

 

CAG: Qual é o maior problema da formação do Chaves atualmente?

Calina com os adjuntos dos juvenis do GD Chaves: Dany Teixeira e Francisco Oliveira Fonte: Facebook Calina

 

CC: Atualmente o maior problema da formação é não haver equipa B ou sub-23. Tenho as minhas convicções e ideias de como devia ser, mas acho que esse é o problema número 1 e por uma razão óbvia: a partir deste momento, não sei até que ponto se terá capacidade para convidar atletas para se inserirem no projeto do Chaves quando o próprio clube termina com a equipa B. A não ser que o clube pense de maneira imediata, como criar protocolos com clubes do CNS ou sub-23.

 

CAG: Como avalia o papel da direção do clube na formação? Será que já podia ter aproveitado algum jogador para a equipa principal?

 

CC: Se podiam ter aproveitado? Penso que se foi dando algumas oportunidades a alguns atletas como o Ruca, atualmente no Pedras [Salgadas], do Mika, entre outros. Agora, uma oportunidade, duas ou três não chegam, é preciso ter paciência e perceber que os processos são difíceis. O próprio clube precisa de tranquilidade, de paz para esses atletas se sentirem confortáveis nos processos e isto não é de um dia para o outro: são processos de meses, de épocas, sem dúvida nenhuma. Só chegar e treinar não é suficiente.

 

CAG: Que futuro vê para a formação do GD Chaves?

 

CC: O futuro da formação é como todas as outras: todas elas precisam de investimento e se esta não tiver investimento e uma continuidade, não vai ter futuro. Esperamos que as coisas no futuro melhorem, é o que espero para o bem de todos, mas se não houver uma convicção de ideias e uma linha que nos conduza àquilo que pretendemos não se consegue nada. Mas acima de tudo é preciso algum investimento, porque sem isso não é fácil conseguir valores e dar condições aos atletas.

 

 

CAG: Depois do complexo desportivo, o investimento tem de passar por onde?

Calina durante um treino dos juvenis do GD Chaves Fonte: Facebook Calina

CC: Depois do complexo, que foi uma mais valia, tem de passar por uma mini-academia e criar um espaço condizente com a realidade da formação, porque para formar é preciso das condições. As condições que atualmente tínhamos, não é que fossem más, mas eram aceitáveis e penso que o importante é pôr toda a gente na mesma academia para se ganhar a tal mística no clube, para todos aprenderem e falarem a mesma língua e não criar muitos clubes dentro de um clube. Este é que é o caminho e exige investimento.

 

 

CAG: Qual foi o seu melhor momento no Desportivo?

 

CC: Vários. Ter ido pela primeira vez à fase de apuramento de campeão, voltar a repetir depois de começar do zero. Mas a maior alegria que tive foi o crescimento dos atletas, esses são os que nos criam expetativa e nos deixam com um sabor doce na boca. Fico muito satisfeito por isso.

 

CAG: E a sua maior mágoa na passagem pelo Chaves?

 

CC: No futebol não existem mágoas, mas uma das maiores tristezas é não me terem dado a oportunidade de treinar os sub-19, que era mais que justo pelo trabalho que desenvolvi. Não aconteceu derivado a várias situações, mas o futebol é assim e temos d

Calina com Tulipa, antigo treinador do GD Chaves Fonte: Facebook Calina

e continuar, outros projetos virão e cá estou para abraçá-los com a mesma convicção e empenho que fiz neste. Agora, saio orgulhoso pelo trabalho que fiz: na história do clube nunca aconteceu tanta valorização de um atleta, tanto internacional – dois ou três pré-convocados para as seleções – acho que tenho de ficar muito satisfeito, apesar de não ser um trabalho só meu, mas também da minha equipa técnica.

CAG: Para terminar, tem alguma mensagem que queira deixar ou um apelo?

 

CC: A mensagem que posso deixar e que, num modo geral, foi a que fui deixando ao longo das épocas que trabalhei no clube, é dizer aos jogadores que acreditem, que percebam o que é jogar no Grupo Desportivo de Chaves, porque oiço muita gente a falar nas místicas e na identidade, mas vejo pouca gente a utilizar e a aplicar esses mesmos termos. Treinei sub-11 no Chaves e sempre lhes disse que o nosso clube é o Chaves e esse é que é o princípio de uma mística. Desejar a esses atletas que cresçam e atinjam o objetivo, que é serem o sustento da equipa A e esperar que o clube olhe para a formação como um sustento de presente e futuro, porque não pode ser de outra maneira. Só que esse processo precisa de tempo e o tempo precisa de paciência. Se não for assim, pode-se acabar com um trabalho que, muitas vezes, está a ser bem feito sem razão alguma. Por fim, agradecer-vos pela entrevista. Muito obrigado, é disto que os adeptos precisam de ouvir e saber e é sempre gratificante para quem trabalha no terreno dizer muitas vezes o que nos vai na alma. Muito obrigado e que continuem a vossa página com essa dedicação e por uma causa que é o Grupo Desportivo de Chaves.

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