Depois de conhecido o primeiro adversário para a Taça esta temporada, recordamos a caminhada até ao Jamor de 2010 e a ascensão e queda do Desportivo numa temporada altamente instável e que, apesar da final da prova-rainha, quase levou o clube à falência.

 

De acordo com o Dicionário de Língua portuguesa, bipolaridade é a “perturbação de humor caracterizada por alternância entre estados depressivos e estados de excitação eufórica”. Para os adeptos do Chaves, significa um flashback tenebroso à temporada 2009/10, que terminou com uma descida de divisão e uma ida à… Final da Taça, num duplo sentimento que deu distensões musculares na cara dos adeptos, tal a tristeza e alegria simultânea.

 

A temporada começou logo com mexidas na direção depois de Marcelo Delgado terminar o seu mandato e deixar a cadeira da presidência disponível a quem estivesse interessado em liderar o clube. Infelizmente para os adeptos do Chaves, só Mário Carneiro apareceu para presidir o Desportivo pela segunda vez e, mais uma vez, acabou em desastre tal como em 1999, mas já lá vamos.

 

O verão até mostrou contratações de qualidade como Castanheira, Lameirão, Samson e João Fernandes, servindo-se de um grupo de trabalho que deveria ambicionar a uma sossegada manutenção na II Liga. Infelizmente, Mário Carneiro continuava a ser incompetente a escolher treinadores, mesmo 10 anos depois, e escolheu o mal-amado Ricardo Formosinho para voltar a comandar o conjunto azul-grená, mesmo tendo treinado o Chaves em 2006/07 durante seis jogos, ganhando apenas um. Nesta segunda passagem realizou 12 jogos, oito para a Liga, dois para a Taça e dois para a Taça de Liga (onde foi eliminado logo na 1ª fase), apenas ganhando um jogo no campeonato e sendo corrido após um empate contra o Freamunde, que deixava o Desportivo em último lugar com sete pontos.

 

Ficou a comandar o adjunto Nuno Pinto, que conseguiu agarrar no lugar e fazer a equipa subir a pique, com cinco vitórias, dois empates e apenas uma derrota até ao final da 1ª  volta, que deixavam o Chaves no quinto lugar a apenas cinco pontos dos lugares de subida, mas na 2ª volta veio o descalabro. Do nada apareceu um processo no tribunal para indemnizar em 1 milhão de euros o ex-presidente Castanheira Gonçalves e, subitamente, o clube deixou de conseguir pagar os seus compromissos, começando uma página negra de ordenados em atraso e falta de dinheiro para tudo.

 

A equipa ressentiu-se do que se passava fora de campo e, dentro dele, assistiu-se à queda mais inacreditável nos campeonatos nacionais. Na segunda volta apenas conseguiu uma (!) vitória para o campeonato (frente ao inexperiente Carregado, que ficou em último) e quatro empates, somando aos 21 pontos no final da primeira volta apenas sete pontos e nem a saída de Nuno Pinto após uma derrota em Freamunde e a entrada de Tulipa (outro nome de bradar aos céus made by Mário Carneiro) mudaram alguma coisa. O Chaves conseguiu a proeza de ganhar mais jogos para a Taça de Portugal que para o campeonato na última metade do campeonato.

 

Na Taça de Portugal tudo correu bem e acabou por ser a prova-rainha a salvar a honra do convento, com triunfos diante de Amares (2-0), Leça (3-0), União da Serra (2-0) e Beira-Mar (1-0), além dos primodivisionários Paços de Ferreira (2-1 fora) e Naval 1º de Maio (1-0 em casa, 2-1 fora após prolongamento). Nas aventuras da Taça, destaque para um jovem flaviense que surgiu: Edu Machado marcou os dois golos no prolongamento contra a Naval e carimbou o passe para o Jamor. Já na final, o FC Porto foi o adversário no estádio Nacional e depois de acabarem o campeonato em 3º lugar, Jesualdo Ferreira queria salvar a época com um troféu, levando jogadores como Falcao, Hulk, Guarín, Helton, Bruno Alves entre outros ao derradeiro jogo. O Desportivo ainda mandou uma bola ao poste logo no início do jogo pelo inevitável Edu, mas acabou por sofrer dois golos, com Clemente a marcar o golo de honra já perto do final do encontro, levando o troféu para a cidade invicta e deixando os sócios do Chaves a perguntarem-se o que raio aconteceu ao prémio monetário de tal caminhada.

 

No final da época é o que se conhece: o clube entrou em insolvência, Mário Carneiro só largou o poleiro perto do final da época 2010/11 e os constantes salários em atraso mancharam o maior emblema de Trás-os-Montes. Depois apareceu Francisco Carvalho a dar a injeção de capital tão necessária e a organizar a casa, levando a equipa da Segunda B à Primeira Liga em cinco temporadas.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

P