Apesar do sucesso no futebol, o Chaves falha em mostrar a raça transmontana no desporto nacional, não proporcionando aos jovens flavienses alternativas ecléticas de forma a reforçar o seu estatuto enquanto clube desportivo e formador.
O Grupo Desportivo de Chaves é, inquestionávelmente, o maior nome transmontano no futebol português. Tem o maior historial, é a única equipa da região presente na Primeira Liga e até nos campeonatos profissionais, é das poucas equipas de Vila Real que tem equipas em todos os escalões de futebol e caminha para ter as melhores condições da região para a prática do desporto-rei.
No entanto, não deixa de ser desconcertante que o Chaves se mantenha como um clube de futebol em vez de um clube “Desportivo”. Sim, é verdade que temos futsal sénior feminino já há duas temporadas, mas também é verdade que poucas mais modalidades se praticam sob a égide do maior clube de Trás-os-Montes, com excepção do andebol, onde o Desportivo tem iniciados e juvenis masculinos e femininos. No fundo, o clube acaba por redundar sempre à volta do futebol e negligencia as restantes modalidades.
Bem sabemos que o panorama flaviense não é o melhor: os jovens não abundam, a população vai envelhecendo mas, acima de tudo, está numa região onde as condições desportivas estão muito limitadas, até no futebol, e os jovens com talento acabam por “fugir” para o muito mais evoluído distrito de Braga. Mas Chaves conta também com três escolas secundárias, uma profissional e uma Escola de Enfermagem, que acaba por somar um “bolo” de jovens bastante avantajado e, sendo o Chaves a grande bandeira da região, é quase um dever do clube fornecer várias modalidades para permitir os jovens praticarem desporto, pelo menos, durante a formação. Além disso, há clubes que estão fora da ribalta do futebol mas conseguem abranger mais modalidades, como o Académico de Viseu, a Oliveirense e o Sp. Espinho. Aliás, até há um clube flaviense que consegue ter um leque de modalidades bastante grande e nem comparável ao do Chaves.
Neste momento, o clube mais eclético da cidade acaba mesmo por ser o Hóquei Flaviense que, com muitos menos recursos que o Desportivo, consegue pôr em prática várias modalidades e ter um número considerável de atletas sob a sua égide, mostrando, também, que com esforço e dedicação é possível abranger várias modalidades e apelar aos jovens.
O caminho, porém, não pode nunca passar por absorver clubes como o Hóquei e as suas respetivas modalidades pelo GD Chaves, mas sim abrir escolas próprias do clube para competir com estas equipas mais pequenas. A competitividade desportiva na região já é má o suficiente e o número de equipas diminuto para se estar a acabar com a pouca concorrência que existe.
Para começar, que modalidades deveria o Desportivo ter? Bem, quanto maior o leque, melhor, mas também não podemos querer ter equipas em tudo o que é desporto de uma só vez porque não há orçamento que aguente essa pancada. As prioridades deveriam ser Basquetebol – dos melhores desportos coletivos que existem e com boa reputação nacional e internacionalmente -, manter e melhorar o modelo do Andebol (se já existe, mais vale aproveitar), Judo – Artes Marciais são sempre importantes no crescimento de qualquer jovem – e Atletismo – requer menos características subjetivas e tem como base a boa forma física. Assim, haveria um leque diferenciado e de qualidade de desportos a praticar pela juventude e adultos, sendo bastante importante adicionar equipas seniores sempre que possível, para haver margem de progressão para lá da formação.
Mas para estas modalidades funcionarem, é preciso, de uma vez por todas, criar um departamento para as modalidades de forma a termos as bases e a supervisão às novas equipas azuis-grená, algo que não se consegue se estas equipas continuarem inseridas no departamento juvenil. Depois, o clube tem de aproximar-se das escolas e organizar treinos de captação para criar as suas equipas, principalmente de formação, para começar a ter os recursos humanos e o talento necessário para as equipas serem competitivas e os jogadores/as conseguirem evoluir com o símbolo do Chaves ao peito. Inicialmente, o foco das modalidades recém-formadas deveria ser as camadas jovens e começar a construir a partir daí, pelo que, e usando um modelo semelhante ao do futebol, conseguir alguma base financeira através do pagamento de mensalidades. Mas atençâo, houve quem tivesse de pagar 40€ mensais para jogar nos iniciados de andebol e isso são valores absolutamente proibitivos para jovens flavienses, por isso é preciso alguma ponderação nestes valores.
Por fim, aproveitar para fazer uma achega acerca do futebol. O desporto tem de estar disponível a todos, por isso também é vital, ainda para mais com novas infraestruturas, o Chaves “saltar” para o comboio do futebol feminino e permitir que as transmontanas, que não têm qualquer equipa sénior na região, possam praticar o desporto-rei em Trás-os-Montes. Como maior representante do Alto Tâmega e de toda a região transmontana, cabe ao clube, sendo mesmo uma obrigação, proporcionar estas modalidades aos jovens e adultos, esquecidos em tantas áreas, e dar-lhes a oportunidade de atingirem um nível de qualidade no desporto nacional.
Futebol feminino